Psicólogo formado pela Puc - Campinas em 2012. Especializando em Psicologia Analítica pela Unicamp. Psicoterapia de crianças, adolescentes, adultos e casais.
Psicólogo formado pela Puc - Campinas em 2012. Especializando em Psicologia Analítica pela Unicamp. Psicoterapia de crianças, adolescentes, adultos e casais. Texto produzido por Rhodys R. Sigrist - Conheça mais sobre o profissional Psicólogo.
Males da Alma
Certa vez uma senhora estava papeando tranquila com a sua vizinha. Como de costume, conversavam sobre problemas. A vizinha estava inconformada. Ela tinha acabado de voltar do médico, que, pela sua descrição, parecia ser um rapaz recém-formado de uma escola primária. Contava a história com tanta euforia para a senhora que dava até para ver a cor das paredes. Tudo começara quando ela chegou ao consultório reclamando de diversas dores. Ela comentou ao médico que já tomava vários remédios ? todos eram uma porcaria que não resolviam nada - e tinha feito vários exames. Nada acusava uma anormalidade física. O médico, ao olhar o caso dela, foi objetivo: Caso para a Psiquiatria. Ao tocar nesse nome, toda a exaltação dela chegou ao ápice. Era um absurdo aquele médico tratar suas dores reais como sendo um problema de cabeça. Onde já se viu! Para ela, o encaminhamento era uma incompetência daquele novato que não tinha estudado direito. Esse exemplo mostra de uma forma alegórica o quanto somos resistentes quando somos obrigados a ter que encarar a si próprios. Como psicólogo, eu sempre procuro dar ênfase à questão do que dar respostas prontas. Nesse caso, eu pensaria: Uma mulher, que já foi a diversos médicos, fez diversos exames e, provavelmente, esse foi o primeiro médico que fez esse tipo de encaminhamento, para que ficaria tão incomodada de ir a um lugar cujo qual ela nunca foi além da sua imaginação e por que a incomoda tanto ouvir que ela precisa de alguém que ajude a sua mente, ou seja, algo que aparentemente ela encara como não tendo nenhum elo com as dores do seu corpo? Em nossa cultura, aprendemos rapidamente a fugir dos problemas de ordem sentimental das piores maneiras possíveis. Seja tomando vários remédios, ou procurando ocupar a cabeça excessivamente, estamos sempre querendo achar um apoio que apenas tranquilize uma sensação ruim que não sabemos da onde vem. Quanto mais tentamos calar esses sentimentos, mais eles aparecem. Se eles continuam não sendo ouvidos, o corpo vira a única forma de comunicação, pois é uma dor mais suportável e aparente do que uma dor psicológica, que parece uma escuridão total e sem fim. Não podemos nem fugir para sempre e nem enfrentar nossos monstros totalmente sozinhos. Precisamos de algo que nos dê forças para enfrentar aquilo que tentamos calar. Muitas vezes aquilo que tanto deixamos de lado, tratando como supérfluo ou idiotice, pode ter todo o antídoto que ajudará a tratar as dores. Da mesma forma que é perigoso literalizar uma dor como sendo apenas dor, não significando absolutamente nada além de dor, corremos o risco de fugir de nós mesmos, assim como aquela vizinha. Não existe nada melhor do que estar ao lado de alguém que possa suportar conosco os males da alma. Nesse outro lugar, nenhum medo consegue falar mais alto.